De 60 a 80, o grito – mesmo que abafado – era por democracia. No começo da década seguinte, pelas ”Diretas Já”, muitos sentiram a ebulição política correr pelas veias. Anos depois, com a esquerda esperançosa, nem Lula nem Brisola assumiram a faixa de presidente, mas mesmo com Collor eleito, o espírito da vida política seguia ativo.
Colorido, o país chutou Collor de Brasília, em uma época marcada por marchas, indignação e, por que não?, esperança de dias melhores. Depois veio a vitória de FHC em cima de Lula. Mesmo sem possuir um plano de governo ligado à esquerda, Fernando Henrique não podia ser rotulado de direita, pois não era como Maluf, Quércia e outros típicos, afinal como tucano, ele não estava nem à direita nem à esquerda: mas sim em cima do muro.
Montado em seu diploma de sociólogo, FHC implantou uma moeda estável, e junto com Covas, Serra, Sérgio Motta, Malan e companhia, privatizou o país. Afinal, segundo ideologia partidária, o que o Estado não podia oferecer ao povo com qualidade, a iniciativa privada seria capaz. Capitalizando até riquezas minerais.
Neste momento o cenário político nacional apresentava a seguinte conjuntura: o governo federal tucano, o nordeste ainda com os caciques, como Sarney, ACM e outros jacarés ainda com a boca aberta, e o PT procurando não deixar morrer a esperança de ver o metalúrgico, alvo de preconceitos, e figura importante na redemocratização nacional, assumir o cargo de presidente do país.
Como oposição, a esquerda se estruturava. Movimentos como o dos Sem-terras seguiam uma linha ideológica e ética. Sindicatos ecoavam o pedido dos trabalhadores. Estudantes faziam greves por um melhor ensino superior. O debate pelo pagamento ou não da dívida externa estava presente em qualquer bate papo politizado. E por mais que divergências ocorressem, um pensamento era mais que consenso. Lula precisava virar presidente. O povo tinha que fazer parte do governo. Com Lula, a participação popular seria mais latente.
Assim, em 2002, com cerca de 53 milhões de votos Luís Ignácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil, com discurso que afirmava que “nunca mais ninguém poderia ousar duvidar da classe trabalhadora”. Ab
raçado em minha mãe, com a vista embaçada, junto com milhares de pessoas, vi em plena Avenida Paulista o sonho de milhões se tornar realidade.
Demorei a acreditar que toda a batalha que escutei desde muito novo havia sido vencida.
Realizados, esquerdistas passaram a vislumbrar dias melhores. Eis que a vida política desse país nunca mais foi a mesma. O calor dos debates reduziu, a ânsia por confrontar argumentos cessou. As manifestações perderam o sentido de si, afinal quem poderia alterar a ordem, estava lá, com o respaldo dos que levantavam cartazes. Ao contrário do esperado, a participação do povo diminuiu.
A ambição de uns e a aproximação de pessoas que de nada colaboraram com os anos de história do PT, fez milhares de petistas se rotularem lulistas. Com vergonha do partido e orgulho de seu presidente, líder e figura das mais importantes na história política deste país.
O governo em si não é assunto para este texto, e sim o desinteresse político vivido nesse período da história. Após décadas de divergências calorosas, a política estagnou. Os jovens revolucionários naturalmente envelheceram. Seus filhos seguem na busca do que lutar. Batalhar contra o desinteresse me parece uma boa. Debata sempre, nunca fique em cima do muro.